O negacionismo não é de agora. Saiba o grande erro da monarca D. Maria I

Publicado por: Editor Feed News
03/01/2022 12:08 PM
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Palácio Nacional de Queluz / Wikimedia
Palácio Nacional de Queluz / Wikimedia

No século XVIII, D. Maria I não vacinou os filhos (e o herdeiro morreu com varíola).

 

A extrema religiosidade de D. Maria I levou a que a monarca não inoculasse os filhos contra a varíola. Em três meses, a rainha acabou por perder quatro pessoas próximas com a doença, incluindo o filho varão — D. José.

 

A hesitação sobre as vacinas está longe de ser algo novo — e Portugal teve um exemplo de uma figura famosa que recusou a imunização no passado.

 

No século XVIII, a rainha D. Maria I recusou vacinar os filhos contra a varíola, alegando motivos religiosos, recorda a BBC Brasil. A decisão acabou por ter grandes consequências na vida da monarca e também na política de Portugal e do Brasil.

 

O filho varão e herdeiro da coroa, D. José, sucumbiu à doença em 1788, aos 27 anos. Nascido em 1761, o príncipe era a esperança de Portugal, especialmente para os críticos do reinado de D. Maria, que se opunham à ideia de ser uma mulher a liderar os destinos do país — incluindo o próprio pai da rainha.

 

Após o regresso do príncipe de uma visita a Caldas da Rainha, os sintomas já se notavam: febre, dores musculares, dificuldade na respiração e manchas vermelhas. Inicialmente, pensava-se que era um caso brando de varíola, mas o prognóstico piorou. Apesar das muitas preces da rainha, o filho acabou por morrer.

 

Dois meses depois, a varíola matou também a filha, Mariana Vitória, o genro e o neto de D. Maria I, tudo num intervalo de poucas semanas. Pouco depois, morreu também Carlos III, rei de Espanha e seu primo, e o padre confessor de D. Maria, frei Inácio de São Caetano.

 

As sucessivas tragédias acabaram por ter um impacto na saúde mental da rainha, que caiu numa profunda depressão e ficou conhecida como “A Louca”.

 

A varíola foi declarada como erradicada em 1980, depois de enormes campanhas de vacinação. No século XVIII, a doença matou cerca de 400 mil pessoas anualmente só na Europa e um terço dos que sobreviviam ficavam cegos.

 

Esta foi também a primeira doença para a qual foi criada uma vacina, pelas mãos do médico Edward Jenner, que a desenvolveu a partir da varíola que afectava as vacas, depois de se aperceber que as pessoas que ordenhavam os animais ficavam imunes à mutação da doença que se espalhava pelos humanos.

 

Ainda antes da invenção de Jenner, já havia “vacinas” caseiras. As culturas da Ásia e da África já tinham notado que os sobreviventes da doença ficavam imunes, o que levou à criação das predecessoras das vacinas actuais, através do contacto de pessoas saudáveis com o pus dos doentes, para que o corpo criasse defesas.

 

Na China, as crostas secas da pele dos infectados eram trituradas e o pó era soprado no nariz. Este tipo de técnicas ficaram conhecidas como variolação ou inoculação e chegaram à Europa no início do século XVIII, trazidas pelos turcos.

 

Estas vacinas e tratamentos tinham ganhado popularidade entre as famílias reais — o risco de morte era dez vezes menor para quem se inoculava — mas, alegando motivos religiosos, D. Maria I recusou sempre inocular os filhos.

 

De acordo com o livro “D. Maria I: Uma Rainha Atormentada por um Segredo que a Levou à Loucura”, de Isabel Stillwell, o rei inglês George III “tinha uma afeição particular pela rainha D. Maria I e era um apologista fanático da variolação” e pediu-lhe que protegesse o príncipe D. José. A corte austríaca fez um apelo igual.

 

Mas nada deteve a vontade da rainha, que acreditava que “a varíola era sempre mais benigna” nos países do sul da Europa. O seu catolicismo profundo foi também um factor: D. Maria I acreditava que a inoculação contrariava a vontade de Deus, numa época em que a religião era um dos pilares da sociedade portuguesa.

 

Isabel Stilwell credita a resistência de D. Maria I à variolação mais à “ansiedade crónica e à progressiva dificuldade em tomar decisões”, mas sublinha que a monarca era influenciada pela freira carmelita Priora da Estrela, que “tendia a desvalorizar os médicos”.

 

A morte do herdeiro do trono acabou também por, naturalmente, ter consequências para o país. A coroa passou assim para D. João VI, irmão de D. José, que passou a ser regente em 1790 devido aos problemas mentais da rainha. O filho de D. João VI, D. Pedro, foi depois o primeiro imperador do Brasil.

 

Por  Adriana Peixoto, Originalmente Publicado por: Planeta ZAP //

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